¿Podemos pensar los no-europeos? Ética decolonial y geopolíticas del conocer

PODEMOS NÃO-EUROPEUS PENSAR?: ÉTICA DECOLONIAL E GEOPOLÍTICAS DO CONHECER: PREFÁCIO


Autor: Walter Mignolo

Tradução: Lindomar da S. Araujo



O “desprendimento” é o nome que reúne diversos ensaios guiados pela ideia do frequente abandono das formas de conhecer que nos sujeitam e modelam ativamente nossas subjetividades pelas fantasias e ficções modernas. O relato da modernidade com sua carga semântica e retórica de progresso impulsiona o consumo, se esforça para manter a ideia de que a história é única e desemboca na ontologia de que a ideia de modernidade é construir; desloca e complementa a felicidade cristã com a felicidade terrena de consumo. Por isso o propósito é a perpetuação de subjetividades modernas devotas do consumo, cuja única liberdade consiste em eleger obrigatoriamente aos governantes que seguiram sujeitados à ideia de que a economia é a ciência do existente, do que existe, e que o signo do cumprimento de uma vida moral e exitosa é a acumulação de riqueza, mercadorias e propriedades.

Para três quartos do mundo o mercado não é um lugar onde se “consome” o salário, mas sim um lugar de encontro, de sociabilidade, de intercâmbio, em comunidades onde se trabalha para viver e não se vive para trabalhar e consumir. A necessidade de nos “desprendermos” de tais ficções naturalizadas pela matriz colonial de poder é a teoria que o pensar descolonial converte em projeto e processo.

A modernidade produz feridas coloniais, patriarcais (normas e hierarquias que regulam o gênero e a sexualidade) e racistas (normas e hierarquias que regulam a etnicidade), promove o entretenimento banal e narcotiza o pensamento. Por isso, a tarefa do fazer, pensar e estar sendo descolonial é a cura da ferida e do vício da cruel compulsão de “querer ter”, nos desprendermos das normas e hierarquias modernas é o primeiro passo para nos refazermos. Aprender a desaprender para re-aprender de outra maneira, é o que nos ensinou a filosofia de Amawtay Wasi.

Os volumes que publicamos não são escritos “sobre o tema”, mas o que eles estão fazendo: fazem o que se tá pensando e não mais um estudo de algo. É uma maneira de estar sendo frente a compulsão de querer ser/ter. O pensar e fazer descolonial, base do desprendimento, não é tão pouco um pensamento para “aplicar” (subsidiário da distinção teoria e práxis), mas é o ato mesmo de pensarmos fazendo-nos, de modo diagonal e comunitário. Não é um método, mas uma via, um caminho para refazermos a busca de formas de viver e de (nos) governar en que não vivamos para trabalhar/produzir/consumir, mas que trabalhemos para con-viver. As dificuldades que os estados e as corporações põem em marcha desses projetos e processos não devem ser ignorados nem tão pouco nos rendermos diante deles.

A crise da modernidade está no que o ocidente (e.g., Estados Unidos e o coração da União Europeia) já não controla a matriz colonial de poder. Não obstante, a disputa pelo domínio da matriz (o acesso econômico e político da China e da Rússia, junto com os estados BRICS) reproduz a colonialidade ao mesmo tempo que disputa o seu controle. Entre os esforços por re-ocidentalizar o mundo, por um lado e a irrefreável desocidentalização na esfera dos estados e corporações, por outro lado, se estende a emergente força política, ética e epistêmica da sociedade política global com projetos à margem dos estados e corporações. À margem não quero dizer afora, mas nas bordas. Daí a necessidade urgente do desprendimento em suas múltiplas manifestações arraigadas em histórias locais e a inevitável urgência de habitar e pensar nas fronteiras.

Quando Hamid Dabashi publicou seu artigo em Al-Jazeera, intitulado “Podem pensar os não-europeus?”, se referia a atualidade da diferença colonial epistêmica e ontológica em que se sustenta a geopolítica e correspondente a ética moderno/colonial do saber. Este volume ecoa a validade atual da questão, traduzindo e trazendo textos chaves do debate iniciado por Hamid Dabashi em Al-Jazeera, em janeiro de 2013, mas também oferecendo-se como uma resposta necessariamente polifônica e inacabada, que esboça as orientações de uma ética decolonial.


BIBLIOGRAFIA

MIGNOLO, walter. ¿Podemos pensar los no-europeos?: ética decolonial y geopolíticas del conocer. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Del Signo, 2018. p. 07-09.



Um comentário:

  1. Genteee, eu tô AMANDO ler esse teu artigo, como VC escreve BEM, estou impressionada com a riqueza tanto de vocábulos qto principalmente de conexões de ideias q abrem a mente através da reflexão profunda e com a riqueza do conteúdo disso tudo! Me chamou Tenção o título por haver geopolítica envolvida (me formei em Geografia) e me surpreendi completamente! Parabéns demais! :) Bjos

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